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EDITORIAL: Reflexões sobre o Dia da Mulher em meio a uma pandemia que parece não ter fim.

Pois é, as circunstâncias não são boas e não dá para se limitar a fazer uma “homenagem” pura e simplesmente, desconectando da difícil fase em que nos encontramos hoje, em pleno ano de 2021. Velhos problemas que insistem em permanecer. Novos desafios que também se mostram resistentes.

2021, o ano da promessa, das vacinas, da “volta à vida normal”, dos novos mandatos de prefeitas e prefeitos, vereadoras e vereadores. Infelizmente 2021, em vários sentidos, parece ser apenas a continuação, um “2020 Parte II”. Não há a sensação de “ano novo, vida nova”. Seguimos ansiosas pelas mudanças capazes de transformar novamente o mundo, desta vez para a melhor.

E, sim, há aqui o espaço de homenagem às mulheres. Às bravas (de bravura, mas também de braveza), incríveis e, provavelmente, exaustas mulheres que tiveram que lidar com as transformações impostas pela pandemia. A quarentena, o isolamento, o desemprego, o fim do auxílio emergencial, o fim das aulas presenciais, vieram com tudo e obrigou a mulher, mãe, esposa, trabalhadora, chefe de família e demais papeis sociais, a conviver sob o mesmo teto com o então marido, os filhos, os afazeres da casa, a pressão, a dúvida, o medo.

Medo. Importante mencionar que esse medo envolve muitas coisas. O medo pela pandemia em si, pela sua própria saúde e a saúde das pessoas que ama. O medo de perder o emprego, ou o medo de não conseguir um novo emprego caso já tenha perdido. O medo de alguém da família, que complementava a renda, perder ou não conseguir emprego. O medo de se desestabilizar emocionalmente pela convivência durante o isolamento já que os filhos, que antes poderiam estar em creches e escolas, agora estão dentro de casa em tempo integral e, como sabemos, isso muda completamente a dinâmica de um lar. Por fim, o medo da presença do marido. Por quê?

Porque, logo que a pandemia começou a demonstrar sinais de que iria ficar por um tempo bem maior do que todo mundo esperava, as notícias começaram a aparecer. Taxa de feminicídio, casos de abusos e agressões, todos aumentando. O motivo? O isolamento social, disseram. Relações abusivas e violência doméstica sempre existiram e pioraram porque a convivência entre autores e vítimas aumentou de maneira significativa. Imagine ter que conviver 24h/dia com a pessoa que te causa medo, te humilha, te deixa tensa, te cobra coisas, te explora, te chantageia, te ofende, te agride? Bem, essa tem sido a realidade de muitas, muitas mulheres.

Então, eu pergunto: como passar por mais um 8 de março sem lembrar delas?

Lembrar delas é lembrar de todas nós. A condição de sofrer constante violência, física e psicológica, é algo que nos atravessa historicamente. Sendo mulher, não dá para se descolar dessa condição.

Vou te contar uma coisa: O ano de 2020 registrou 179 mortes de mulheres no contexto de violência doméstica. Isto é um caso a cada dois dias. DOIS DIAS. Só no mês de abril houve 31% mais casos que em abril de 2019. E isso é assustador, porque foi em abril que o isolamento social foi aderido pela maior parte da população, em todo esse tempo que a pandemia tem durado. Em 2021 as manchetes continuam trazendo casos e mais casos.

Para quem é mulher, covid-19 está longe de ser o único vilão.

Mas temos o que comemorar: Há mais clareza sobre relações abusivas e sobre feminicídio. Mais mulheres tem denunciado. Estamos cada vez mais compreendendo os riscos e as ações possíveis para cada caso. Agora temos “até” uma Delegacia da Mulher eletrônica, cujo endereço está listado no final deste texto, junto com os telefones úteis. Nunca se falou tanto sobre esses temas. Isso significa que mais mulheres estão tendo acesso à informação e aos debates. Mulheres ouvindo mulheres, aprendendo e trocando com outras mulheres, relatando suas histórias, traumas e experiências: Isso já é uma realidade. Embora ainda falte muito para que consiga atingir a todos, a ponto de ser capaz de mudar todo o cenário de violência recorrente, fica o alerta e o incentivo: Nossa voz é tanto um pedido de socorro quanto o que socorre. Sempre que puder, fale. Grite, relate, denuncie, peça ajuda, apareça, se envolva, escute, apoie. Como a vacina é capaz de colocar um fim em uma pandemia, mulheres conscientes e protegidas encerram ciclos de violência.

A todas, um excelente 8 de março. E se cuidem, com e sem pandemia.

Ligue 190, emergência para quem presenciar uma situação de agressão.

Ligue 190, para mulheres que estão passando por violência doméstica.

Ligue 188 (CVV), para apoio emocional e prevenção do suicídio.

Delegacia da Mulher eletrônica: www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/ssp-de-cidadao/pages/comunicar-ocorrencia/violencia-domestica/triagem-de-vitima

Delegacia de Defesa da Mulher – SALTO: (11) 4029-2533

Referência:

Texto de apoio (dados de pesquisa): https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/02/22/estado-de-sao-paulo-registrou-um-feminicidio-a-cada-dois-dias-em-2020.htm